A Moda e seu Contexto
A moda é fruto e também impulsionadora do seu tempo. De forma simbólica, reflete e exprime ideias e ideais em sua construção de valor, principalmente naquilo que emana enquanto discurso, desde antes da concepção moderna do próprio sentido da moda. Reis, rainhas e reinados, papados e poderes de toda sorte sempre se utilizaram da indumentária da “moda” para se imporem, para manter ou reformar status quo existentes na história da humanidade.
Nesse percurso, a produção da moda importa tanto naquilo que é visto, mas, sobretudo, nas formas de organização do trabalho e de produção de todos os seus insumos e matérias-primas utilizadas. Dos tecidos aos acessórios, da maquiagem ao cuidado com os cabelos, a moda prescinde de complexas cadeias produtivas e, desde o século passado, demanda um esforço da indústria com alto valor agregado.
Em sua cadeia produtiva, o mais visível é o trabalho dos estilistas, o corte, a costura, os desfiles, modelos e os editoriais em revistas, sites e portais. Na outra ponta dessa cadeia estão as indústrias de transformação, o estudo e desenvolvimento de materiais, a ciência da indústria cosmética, o estudo de fibras e a química para o alcance de cores, brilhos e outros efeitos que criam glamour, beleza e experiências sensoriais diversas.
E como em toda e qualquer atividade humana contemporânea, a moda também enfrenta os dilemas do seu tempo e deve assumir seu lugar transformador como lhe é de costume: a moda sempre fez e fará vanguarda. Deve oferecer, pensar e representar soluções que fortaleçam hábitos e traduzam sentidos de acordo com as premissas transformadoras exigidas.
O século XXI apresenta grandes desafios para todas as indústrias, hábitos e costumes, com questões que vão muito além de escolhas morais, senão da própria viabilidade da vida humana no planeta. As questões da sustentabilidade, da gestão de resíduos, da inovação de materiais e a busca de fontes renováveis de energia se colocam para todas as atividades industriais, produtivas e econômicas.
Então, pensar novos modelos de negócios, apresentar e debater sobre processos produtivos e tecnologias apropriadas, conceber a moda em toda sua potência criativa desde seus materiais até o resultado final dos produtos e hábitos de consumo é o cerne do FRIBURGO FASHION WEEK (FFW).
Concebido e idealizado para acontecer em Nova Friburgo – RJ, pelos motivos que à frente se justificarão no presente projeto, o FFW traz um conceito de vanguarda ao associar diretamente a criação da moda aos desafios de sustentabilidade e inovação, reunindo criativos, produtores, industriários, investidores e formadores de opinião em quatro dias de trocas, atividades de formação, geração de negócios e investimentos. Assim como, a promoção de atrações para os participantes de toda natureza que vivem, respiram e aspiram tudo que a moda oferece de melhor.
Integração com os Arranjos Produtivos Locais (APL)
Apesar de o FRIBURGO FASHION WEEK ser um projeto para acontecer em Nova Friburgo, ele também é uma oportunidade de integração de todos os Arranjos Produtivos Locais (APL) de moda e vestuário do Brasil, sendo realizado em Friburgo em função de toda a história que a cidade possui como um desses APLs.
Assim, seja bem-vindo! Este é um convite para contribuirmos para um mundo melhor, com muito estilo! Bem-vindo ao FRIBURGO FASHION WEEK.
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A História
A moda é expressão cultural de um conjunto de opiniões, gostos, assim como modos de agir, viver e sentir coletivos, que se realiza por meio da apropriação e uso de novos tecidos, cores, matérias-primas etc., sugeridos para a indumentária humana por costureiros e figurinistas que expressam ou captam, em última análise, o comportamento de um povo ou comunidade. Em seu campo de desenvolvimento e criação, é uma indústria transversalmente estimulada por expressões culturais as mais diversas. Da cultura popular às manifestações de vanguarda, dialogando e resultando em múltiplas linguagens artísticas, desde a música até o teatro e o cinema, por exemplo.
Não obstante, a indústria da moda engaja setores e demanda arranjos produtivos complexos, com milhares de pessoas em seus processos. Da tecelagem ao design, do corte e costura à publicidade, das passarelas às vitrines, desembocando na própria concepção e vida das cidades ao criar espaços de convivência, trocas e comércio.
Nesse sentido, Nova Friburgo viu florescer, a partir de 1915, uma pujante indústria da tecelagem criada por imigrantes alemães que escolheram a cidade por sua então consolidada posição de cidade turística e de rica vida cultural. Para se ter ideia do grau de importância desse fato, para que tal indústria se desenvolvesse, Nova Friburgo se tornou uma das primeiras cidades brasileiras a possuir iluminação elétrica pública, antes mesmo da capital Rio de Janeiro.
Na esteira da indústria têxtil, se fez uma cidade criadora de moda, tendo a fábrica de Rendas Arp como a criadora de estilos e tendências, e a fábrica Ypú como um ícone que exportava sua produção para todo o mundo e era referenciada como produtos de alto padrão em centros como São Paulo, Milão e Nova York.
No curso dessa história, contando com o aparato social que as indústrias proporcionavam em seus clubes e centros culturais, a cidade criou um ambiente social para o surgimento de nomes de vanguarda como Lygia Pape nas artes plásticas, Roberto Faria no cinema, Egberto Gismonti na música e o lendário Clóvis Bornay, museólogo e carnavalesco friburguense que criou o famoso Baile de Gala do Carnaval Carioca, influenciando a criação de uma nova tradição das fantasias de destaque nas escolas de samba e no carnaval brasileiro.
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A Indústria da Moda em Nova Friburgo e Região
Atualmente, segundo dados do Sindicato do Vestuário (SINDVEST) apresentados na Federação da Indústria do Rio de Janeiro (FIRJAN), o polo de moda íntima abrange 12 municípios atendidos pelo SINDVEST, onde estão presentes 3.094 fábricas de lingerie, com portes que vão desde MEI, Microempresa e Pequenas Empresas até empresas de grande porte. Em Nova Friburgo, a maior parte dessas indústrias produz cerca de 336 milhões de peças por ano, representando 35% da produção nacional. Além disso, 14% das empresas do polo trabalham com exportação, principalmente para os Estados Unidos, Portugal, Argentina e Uruguai, entre outros.
Contudo, esse polo vem enfrentando os desafios de concorrência cada vez mais acirrada, além da pressão contínua por qualificação e atualização estética e conceitual. Ainda, passa a conviver com barreiras de entradas comerciais e maior pressão pela adoção de gestão de resíduos e ações de ESG para a entrada em mercados estratégicos. A gestão do impacto ambiental é hoje um fator decisivo para a competitividade dessas indústrias.
É certo que há anos o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Firjan e outras entidades, como o próprio SINDVEST, vêm realizando esforços para essa qualificação.
A Inovação, a Economia Circular e a Moda
Nesse cenário competitivo contemporâneo, as empresas enfrentam uma dupla dimensão do agravamento da crise climática global: a necessidade de substituição de matérias-primas sintéticas por tecidos ecologicamente menos impactantes, associada ao custo da energia para produção e comercialização; e o gerenciamento de resíduos para adequação às novas legislações impostas pelo governo brasileiro e governos estrangeiros (legislações criadas a partir da pressão crescente de consumidores e formadores de opinião mais conscientes da necessidade urgente de transformação da cultura de consumo).
Ainda, segundo o geógrafo, ambientalista e gestor de ESG Fernando Cavalcante, somente em Nova Friburgo o descarte de resíduos da indústria têxtil é estimado em 285 toneladas por mês, e segundo Ana Moreira, coordenadora do Laboratório de Sustentabilidade e Química de Polímeros - LaSQPol da Uerj - campus Nova Friburgo, o descarte inapropriado desses resíduos diminui a vida útil dos aterros sanitários.
A partir das premissas da Economia Circular, para enfrentar esse cenário, é preciso buscar incentivo à reciclagem, à reutilização e ao reparo, e a substituição de materiais perigosos por alternativas mais seguras e saudáveis.
A Moda e Outras Expressões Criativas
Em outro sentido, a moda sempre dialogou com outros fazeres criativos em processos de retroalimentação inventiva e estética. A música, o cinema, a fotografia, as artes plásticas, a dança e o teatro sempre se valeram da moda como fonte inspiradora ou foram precursoras de modas depois assimiladas por estilistas e agentes criativos do setor.
Os três pilares da Economia Criativa ensinam que é preciso liberdade para criar, aproveitamento da inventividade em sentido econômico e promoção do fluxo de pessoas para que um território transborde criativamente. Por isso, é vital que haja um local, momento e forma para que agentes da invenção possam se reunir, trocar ideias e conceitos para o exercício livre e a apresentação de seus fazeres, gerando novas associações, perspectivas e criações.
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O Sentido do FFW
A partir dessa riqueza histórica, do contexto desafiador da crise climática e da necessidade de implementação de novas tecnologias, o Friburgo Fashion Week se justifica como um espaço de diálogo entre a moda e os desafios atuais. O evento promove debates sobre temas como sustentabilidade, acessibilidade e economia circular, criando oportunidades de negócios para produtores e investidores.
Com uma programação diversificada, que inclui exposições, desfiles, shows musicais e workshops, o FFW oferece uma experiência única e multisensorial para todos os envolvidos. O evento pretende ser um catalisador de mudanças positivas, gerando novos negócios e promovendo práticas mais sustentáveis na indústria da moda.
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Nossa Missão
Promover uma semana de moda inovadora, onde sustentabilidade, tecnologia e criatividade sejam os pilares. Queremos inspirar e educar profissionais da moda e o público em geral sobre a importância de práticas de ESG (Environmental, Social and Governance) e DE&E (Diversidade, Equidade e Inclusão) contribuindo para um futuro mais justo e sustentável.
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Sustentabilidade: Práticas responsáveis em todas as etapas da produção, buscando reduzir o impacto ambiental e promover um futuro sustentável para a moda.
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Tecnologia: Incentivo ao uso de tecnologias sustentáveis e inovadoras para aprimorar a cadeia produtiva e torná-la mais eficiente.
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Criação: Valorização da diversidade e criatividade, promovendo inclusão e representatividade.
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Ética: Compromisso com práticas éticas em todas as etapas do evento, desde a seleção de participantes até a gestão de resíduos.​
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Nosso objetivo é transformar a moda em um agente de mudança para um futuro mais inclusivo, responsável e sustentável.